TODA FORMA DE INCLUSÃO DEVE SER LEVADA A SÉRIO
Rosivaldo Almeida
O tema acessibilidade é uma alavanca para protestos e discussões na 9° edição do Fórum Social Mundial, que acontece em Belém. No último dia 30 uma mesa de diálogo, realizada na Universidade Federal do Pará, por iniciativa da empresa ACESSIBILIDADE BRASIL, que é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos) - levou um grupo de pessoas a refletir sobre os problemas enfrentados por pessoas com deficiência no que concerne a utilização de sites que não atendem a necessidades especiais dos usuários, segundo o conceito de desenho universal e acessibilidade previsto no W3C - Consórcio para WEB - e WAI - Iniciativa para acessibilidade na Rede.
O evento começou com o professor Guilherme Lira - Presidente da Acessibilidade Brasil, sob o tema Acessibilidade no governo eletrônico, e teve como principais objetivos: A garantia (ao longo da vida de todas as pessoas) dos direitos econômicos, sociais, humanos, culturais e ambientais, especialmente os direitos à alimentação (com garantia de segurança e soberania alimentar), à saúde, à educação, à habitação, ao emprego, ao trabalho digno e comunicação.
O professor destacou que a expresão “acessibilidade” precisa ser levada a sério e discutida cada vez mais nas esferas públicas, e que as organizações precisam se mobilizar para que projetos saiam do papel e passem a ser discutidos em casa, nas escolas, hospitais e supermercados para a consolidação de um novo mundo possível.O local foi completamente ocupado por jornalistas, estudantes, curiosos e das próprias pessoas com deficiência em busca de conhecimento, debates, descobertas e desenvolvimento de projetos que privilegiem a inserção social e econômica.
Um dos assuntos de pauta do debate foi a falta de participação da população de Belém no Fórum Social. Segundo pesquisas realizadas, 60% da população não sabe o que ele representa, tornando difícil a concretização de um outro mundo possível, como é proposto no tema do Fórum, uma vez que a comunidade não está por dentro dos debates na área de inclusão e acessibilidade; Muitas pessoas nem sabem de seus direitos, e acabam “sufocando” deficiências genéticas, ocasionando, no futuro, traumas e complexos irreversíveis.
Alexandre da Silva Diniz, da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Pará relatou um fato curioso. Certa vez ele e uma equipe atravessaram a Baía do Guajará, bem em frente a Belém, para visitar os ribeirinhos e ministrar palestras de inclusão digital, e surpreenderam-se ao perceber que eles não tinham o menor conhecimento do que era um computador e suas ferramentas, então, os palestrantes tiveram que reavaliar o motivo de suas visitas e explicar passo-a-passo os procedimentos da Era Digital, além de propor palestras de conscientização às famílias com pessoas com deficiência que não têm noção de tratamentos psicológicos e procedimentos adequados.
“A situação dos ribeirinhos me comoveu. Além da falta de conhecimento por objetos modernos, muitas vezes banais, para quem vive nos grandes centros urbanos, o que me chamou a atenção foi perceber que as pessoas com deficiência não saem de casa , por terem vergonha, por isso é importante que o Fórum seja discutido na Amazônia, mas é preciso que a população participe, interaja, cobre seus direitos e lute por melhorias.
Os depoimentos fluíram de forma intensa. Vários os casos de exclusão foram descritos ali, em uma sala com capacidade para 90 pessoas. A expressão dos participantes era de espanto. Fabiano da Silva Moraes, 18 anos, participa pela primeira vez do Fórum e se mostrou indignado pela falta de políticas públicas na área de inclusão social, e ressaltou: “Falta investimento do Governo na formação constante de profissionais capacitados para a criação de sites acessíveis, mas não se pode esquecer que inclusão e acessibilidade vai muito mais do que desenvolver projetos e programas para pessoas com deficiência, também é levar informação aos ribeirinhos que estão aqui, a 15 minutos de Belém”.
Seguindo esse gancho houve disputa para o próximo a falar. Todos queriam contribuir com suas experiências e propostas, porém uma fala destacou-se e fez com que todos concordassem, em silêncio, foi André Barros,que tem de Sindrome de Down, atleta paraense (o único a atravessar a Baía do Guajará à nado), e também assessor parlamentar, proferindo as seguintes palavras: “O deficiente não é inútil e a família tem que participar junto, contribuindo para a melhoria de um outro mundo possível. Se você sofre preconceito, lute, não aceite, prove ao mundo a sua capacidade e ilumine o ambiente”.
Um assunto polêmico gerou discussões próximo de encerrar o tempo da mesa de diálogo: O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social - BPC - (destinado ao idoso ou pessoa com deficiência, que não tenham condições de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua própria família). Segundo Elisa Senna, Psicóloga da Fundação Alvares de Azevedo, esse benefício faz com que algumas pessoas, o tempo todo, se esconda atrás de sua deficiência, nao desenvolvendo habilidades e tarefas possíveis. “O BPC deixa atrás um potencial humano. A pessoa abre mão de uma carreira pelo benefício, que muitas vezes, sustenta a família.
A partir disso, surgiu um acordo e propostas de melhorias para esta triste realidade:
1 - É preciso investir na auto-estima desse segmento;
2 - Mostrar é possível atingir melhorias que não seja, simplesmente, um salário;
3 - Conscientizá-los de que o benefício é estagnador, e é possível ir além.
4 - Investir na capacitação deles, uma vez que, alguns, sempre indicam um parente, mas nunca eles mesmos.
A palavra final foi do Professor Guilherme Lira que encerrou o debate enfatizando: "Lutar pelos direitos de inclusão e acessibilidade é um desafio constante, mas temos que nos mobilizar, pressionar. Toda e qualquer forma de inclusão deve ser levada a sério, não há outra forma de mudança".
Fonte: Agência Inclusive