O desafio foi lançado em dezembro de 2006: celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos por meio da voz, luz, magia e movimentos do cinema.
Foram quatro cidades naquele ano. Passamos a oito em 2007, a doze em 2008. E a 4ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul estende-se a dezesseis capitais em 2009, renovando mais uma vez a proposta de combinar a arte libertadora de Chaplin, Eisenstein e Glauber Rocha com o sonho da igualdade na diversidade.
Em seguimento à experiência de 2008, a curadoria é de Francisco César Filho, que todos no cinema brasileiro conhecem como Chiquinho. A partir de uma chamada pública, amplamente divulgada, e de cuidadosa pesquisa junto a realizadores de dez países, ele selecionou 39 filmes, separados no catálogo em quatro blocos.
No bloco maior, reunindo somente produções dos últimos dois anos, a inclusão de “Garapa”, de José Padilha, busca reforçar a consciência crescente no País a respeito da urgência da erradicação da fome e da extrema pobreza. Os outros 21 filmes desse bloco completam a pluralidade de temas que compõem o caleidoscópio dos Direitos Humanos: preconceito racial, equidade de gênero, proteção da criança e do adolescente, saúde mental, tortura, trabalho escravo, pessoas com deficiência, diversidade sexual, liberdade religiosa, memória da repressão política, a questão do idoso e muitas outras.
A Retrospectiva Histórica desta 4ª Mostra coloca em perspectiva o olhar de diretores sul-americanos sobre esses mesmos temas, sempre em produções de décadas anteriores.
A seção Homenagem valoriza, desta vez, o pioneirismo do projeto “Vídeo nas Aldeias”, concebido pelo diretor Vincent Carelli, já premiado em Gramado, que desde 1987 combina a luta indigenista com uma estratégia fascinante de Educação em Direitos Humanos para produzir filmes sensíveis e de elevada qualidade.
O respeito aos direitos ancestrais dos povos indígenas segue representando um grave desafio à consolidação da convivência democrática em nosso País, não obstante o desfecho animador da disputa travada em torno da Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
Basta lembrar que, nesse confronto, quase toda a mídia alinhou-se com os interesses espúrios de alguns forasteiros que invadiram aquele território há poucos anos, usurpando direitos de pessoas que ali vivem e protegem a natureza há séculos ou milênios.
Entre as Sessões Especiais constantes da programação, cabe destacar dois títulos relacionados com o Direito à Memória e à Verdade, assunto que ainda desperta polêmica acirrada, exigindo um esforço corajoso para ajustar contas com a nossa história recente, passo necessário à construção de garantias no sentido de que o ciclo de violência e ditaduras não se repita nunca mais.
“O Cavaleiro Negro” resgata o heroísmo internacionalista do embaixador sueco em Santiago do Chile, Harald Edelstam, no momento do golpe militar que depôs o governo democrático de Salvador Allende e mergulhou a terra de Neruda em um longo banho de sangue. A coragem e a ousadia do diplomata salvaram a vida de centenas e centenas de refugiados políticos que buscavam asilo político em diferentes embaixadas para escapar da sanha fascista de Pinochet.
Será apresentada também, em duas sessões, a mini-série de TV dirigida por Tata Amaral, com desempenho magistral de Carlos Alberto Riccelli, que focaliza os dramas e traumas provocados pela tortura aplicada rotineiramente aos opositores do regime ditatorial de 1964. Passados 21 anos de reconstrução democrática após a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, o trabalho mostra o quanto nosso País ainda não conseguiu exorcizar cabalmente os fantasmas daquele período de sombras e de chumbo.
A bandeira da inclusão segue presente na 4ª Mostra. Todas as sessões são gratuitas e mesmo os filmes brasileiros apresentam legendas para que possam ser acompanhados por pessoas com deficiência auditiva. Todas as salas de exibição são adaptadas para cadeirantes e cada cidade exibirá mais de uma sessão com áudio-descrição, recurso de acessibilidade destinado a pessoas com deficiência visual.
A 4ª Mostra é uma realização da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, com patrocínio da Petrobras e produção da Cinemateca Brasileira, contando com apoio do SESC/SP, da TV Brasil e do Ministério das Relações Exteriores.
Paulo Vannuchi
Ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República