sábado, 19 de setembro de 2009

PRECONCEITO ODIOSO


PRECONCEITO ODIOSO


O presidente da República usou da posse do desembargador Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, o primeiro magistrado deficiente visual da história do Brasil, para fazer um discurso contra o preconceito. E ele foi incisivo e contundente. Luiz Inácio Lula da Silva relembrou a trajetória do novo desembargador, que há 10 anos foi reprovado no concurso para juiz no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo por conta da deficiência: "Foi reprovado porque entenderam que ele não poderia ler e nem identificar as expressões dos réus e testemunhas, mas esqueceram que ele compreende a variação vocal de um depoimento com muito mais facilidade que os que enxergam. Afinal, não é preciso ter a visão perfeita para se enxergar a verdade e a justiça", declarou. Lula teria optado pelo tom mais firme no discurso depois de saber da opinião de gente graúda no Paraná que entende que o jurista, por ser cego, não deveria ter sido indicado à função. O presidente, dessa vez, teve uma postura de escol.

A íntegra

Lula cometeu um erro somente: promoveu, mesmo às avessas, uma forma de descaso com a educação. "Talvez a minha deficiência seja de origem diferente da do desembargador Ricardo Tadeu, a minha é a deficiência intelectual. Mas como o Paraná dá exemplo ao empossar o primeiro juiz cego, o Brasil também deu exemplo ao eleger o primeiro presidente da República sem diploma universitário", disse. Trata-se de uma análise imprecisa, na forma e no conteúdo. A falta de estudo não deve jamais servir de exemplo, mas, ao mesmo tempo, não pode prestar-se a ser um fato impeditivo para que qualquer pessoa possa chegar ao poder.

O racismo

Lula também comparou a nomeação de Ricardo Tadeu à indicação de Joaquim Barbosa como o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Ainda assim, o preconceito segue muito forte e aparece no anonimato do cotidiano, de forma sutil", afirmou o presidente.

Lá também

A questão que envolve o tema preconceito também teve lugar ontem nos Estados Unidos. O ex-presidente norte-americano Jimmy Carter considera que o atual mandatário do país, Barack Obama, está sendo criticado pesadamente pela oposição em muito por conta da cor de sua pele: "Eu acho que uma grande proporção da animosidade demonstrada é baseada no fato de que ele é um homem negro, ele é afro-americano", afirmou à emissora de televisão NBC. Para Carter, essa característica americana é "abominável". Se é.

Última

Sobre o assunto de hoje, a coluna encerra com uma frase perfeita escrita pelo filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778): "Os preconceitos são a razão dos imbecis."