segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SÍNDROME DE DOWN E PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN

"SÍNDROME DE DOWN"
Leia o artigo publicado no Caderno A - Opinião do Jornal de Uberaba em 10/01/09:
http://www.jornaldeuberaba.com.br/?MENU=CadernoA&SUBMENU=Opiniao&CODIGO=27687


EM RESPOSTA À PUBLICAÇÃO DO SR. JOSÉ LOUBEH:
Claudia Grabois
Presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down

Me parece absurdo ver publicado um disparate desses menos de um ano depois da ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU), que vigora em todo território nacional com valor de Emenda Constitucional. Ao mesmo tempo, agradeço ao jornal pela possibilidade de esclarecer ao Sr José Loubeh, o qual escreve com total desconhecimento de causa, e talvez por isso, com teor profundamente preconceituoso, arrogante, desumano e de incentivo à discriminação, fazendo questão de explicitar a sua apologia ao aborto de bebês com síndrome de down, o que inclusive no nosso país é crime, assim como a discriminação também o é.

É preciso esclarecer ao autor da carta que já há muito tempo caiu em desuso o termo ”mongolismo”, sendo o correto “Síndrome de Down”, e que as Pessoas com síndrome de down tem um cromossomo a mais no par 21 e a isso se denomina trissomia do 21. Esclareço também, porque certamente o autor não sabe, que síndrome de down NÃO é uma doença, e os bebês que nascem com a síndrome de down são bebês como todos os outros. Dão risada, choram, brincam, crescem como todas as crianças e nos dão enormes alegrias; enfim, são filhos e filhas que amamos intensamente.

É preciso esclarecer também que as Pessoas com síndrome de down são sujeitos de direitos como toda e qualquer pessoa, porém, mais do que isso, são seres humanos que não podem em momento algum ser tratados da maneira sugerida pelo jornalista que assina a carta. Ninguém pode ou deve ser tratado assim. Pessoas com síndrome de down têm deficiência intelectual e têm sido vítimas de preconceitos em função da arrogância de alguns, o que provoca segregação, exclusão social e violência manifestada de várias formas. Com muito trabalho, há muitos anos começamos a luta pela inclusão social plena das pessoas com síndrome de down, que o Sr Loubeh sugere que sejam exterminadas. Com muita luta avançamos e as crianças com deficiência intelectual, que antes estudavam em escolas especiais, hoje estudam em classe comum e no convívio com todas as outras crianças.

Com muita determinação os espaços no mercado de trabalho vêm sendo ocupados por pessoas com síndrome de down, assim como nas universidades e em todos os demais espaços sociais. Temos trabalhado intensamente para que a acessibilidade seja realidade no nosso país e para que todas as barreiras sejam rompidas, incluindo as atitudinais e as sociais, a fim de que as pessoas com síndrome de down sejam plenamente incluídas. E esse trabalho é feito principalmente pelas próprias pessoas com Síndrome de Down que tanto incomodam o autor do texto, que não percebe que ele sim, com seu perigoso discurso contra o nascimento de pessoas com síndrome de down e de incitação ao aborto e à violência se torna uma bandeira abominável pela discriminação de toda e qualquer diferença. Para não dizer que não falei das flores, seria mais digno se tivesse aberto mão da poesia e feito um discurso sobre a "pureza da raça" com uma frase direta de Adolf Hitler, que também pregava o extermínio e exterminou milhares de pessoas com deficiência, dentre elas, pessoas com síndrome de down.

A descoberta do cromossomo 21, por Jêrome Lejeune, aconteceu há 50 anos atrás e é no dia 21 de março que comemoraremos o Dia Internacional da Síndrome de Down e, desde já, convido o Sr Loubeh para participar, e como jornalista cobrir os muitos eventos que serão realizados em todo país, e quem sabe, assim, ele se descobre também como um ser humano completo e merecedor da convivência com as diferenças, que tanto nos enriquecem como sociedade organizada e como humanidade. Aproveito para convidar esse meio de comunicação para se juntar a nós na luta contra o preconceito e discriminação, e pela inclusão plena das pessoas com deficiência intelectual na sociedade.

Obs.: Para que o empresário e jornalista José Loubeh aprendesse, usei várias vezes “pessoa com síndrome de down” e “pessoa com deficiência intelectual”, pois essas são as terminologias corretas.

Claudia Grabois
Presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD)
E-mail: presidentefbasd@gmail.com